Entre margens descubro a luz branca de Lisboa e a silhueta do Corcovado, os carris gastos dos electricos amarelos e a vertiginosa altura do "bondinho" suspenso, os pregões nos aventais de uma varina da Ribeira e o rodar de saias de uma Mãe de Santo num Terreiro de Candomblé. Entre margens vejo a espuma das ondas brancas do Arpoador e as Fragas onde o vento sopra na boca da barra do Tejo, entre margens sei de dois Orixás para cada Colina e descubro o Lundum do Fado e do Samba. Entre margens provo cachaça do cais do sodré e imperial da Barra da Tijuca, redescubro o folclore de um rancho do Minho e o batuque da Escola da Mangueira ou a pressa batida do ribatejano fandango com a ginga malandra da capoeira baiana.
Entre margens brilha o trinado da guitarra das doze cordas na forma de coração como reluz o dedilhar dos acordes inventados do violão do boteco, entre margens chora o pranto de um fado vadio de xaile às costas e vestido de negro como canta o tronco nú e o olhar reguila de um Axé visto do mar.
Entre margens eu! Esta paixão, este saber-me de dois e não poder condensá-los num só. Entre margens - a de cá e a de lá - vivo, neste mar que nos separa e nas ondas que me vão empurrando de margem em margem, do Tejo ao Corcovado, até que a rebentação decida para onde deve levar-me.
Entre margens brilha o trinado da guitarra das doze cordas na forma de coração como reluz o dedilhar dos acordes inventados do violão do boteco, entre margens chora o pranto de um fado vadio de xaile às costas e vestido de negro como canta o tronco nú e o olhar reguila de um Axé visto do mar.
Entre margens eu! Esta paixão, este saber-me de dois e não poder condensá-los num só. Entre margens - a de cá e a de lá - vivo, neste mar que nos separa e nas ondas que me vão empurrando de margem em margem, do Tejo ao Corcovado, até que a rebentação decida para onde deve levar-me.