É verdade, depois do almocinho com os sogros da minha namorada (que por sinal foi um sucesso!), lá rumamos à Mata Pequena - ali para as bandas saloias - com tudo preparado para receber os primos e - enfiadas que estavam duas mudas de roupa, pijaminhas e bolsa de higiene pessoal no saco - preparámo-nos
para dois dias tranquilos de passeio e lazer com a melhor companhia do mundo.
A C. - que até conhecia o caminho - conduziu sem precalços até à aldeia da Mata Pequena (um projecto encantador de Turismo Rural de um casal que se cansou da confusão e do burburinho da cidade grande e se mudou para um casinha pequena que, fruto de muito trabalho, dedicação e bom gosto, se transformou num respeitável conjunto de casas respeitadoras da traça da região e onde a recuperação e tradição são palavras de ordem). Chegadas à Casa do Padeirão, foi tempo de preparar a mesa para receber os três estarolas que, supostamente e por impedimentos laborais, só chegariam lá pelas 20h. Mas não!
Nem por isso, ainda o relógio tinha acabado de bater as sete e já os primos batiam à porta. Claro que os recebemos no jardim, de velas acesas e fresquinha na mão.
Seguiu-se o jantarinho de raclette inovado com carnes na pedra - regado com vinhos do Chile, Austrália e França - e a delícia de frutos silvestres com suspiro e lá fomos estreitar a lua. Alinhámos numa actividade da aldeia onde - pela mão de um especialista e do seu telescópio - se fazia a observação do céu e da senhora em forma de queijo que vaidosa se escondia atrás das núvens. A criançada estava excitadissima e o Cardoso - cão vadio que os donos acolheram há quase dois anos - no meio de tanto entusiasmo até se enganou e ia mordendo a prima.
Depois de um cafézinho, ao som do "bom feeling" da sara Tavares, e mais umas fresquinhas - sim porque atestamos o frigorifico por forma a nada falhar - lá nos obrigamos ao recolher porque no dia seguinte queriamos ir partilhar com os primos as delicias da vila de Óbidos. Os primos, esses, ainda tentaram encenar uma obra de Jorge Amado cujo exemplar encontraram no quarto que lhes estava reservado mas o sono acabou por vencer o sotaque do português com açucar e lá reinou o silêncio da noite.
Na aldeia da Mata Pequena o dia amanhece sempre da mesma forma. Os doces e compotas, a manteiga, o fiambre, o queijo, o leite e os sumos passam a noite lá em casa e, pela fresca bem cedinho, o padeiro passa e deixa o pãozinho do dia no saco de pano pendurado na porta a recordar o tempo de outros tempos. E que bem soube o pão fresquinho e o café acabado de fazer na cafeteira antiga. Que bem soube partilhar aqueles momentos d
e pura descontração e de regresso ao passado e que bem soube - depois - arrancar rumo à descoberta de Óbidos, a ginjinha tomada ao som das gargalhadas da mesa e ao tom do chouriço assado na mesa
de nuestros hermanos, a prima nova que queria ler o destino numa garrafa de Ginja, que bem soube descobrir tesouros escondidos nas paredes desta vila que respira e tem alma própria.A estrada gritava por nós e sempre junto ao Mar - porque o dia amanheceu choroso mas foi abrindo um sorriso à medida que nos encontrava pelos caminhos - lá percorremos o espaço com direito a paragem para um arrozinho de lagosta até casa onde o dia chegou ao fim e nos embalou num final muito, mas mesmo muito feliz.