Lá dentro tu. Sentada. Aninhada num canto do sofá, desse mesmo sofá indiscreto testemunha de tantas carícias, de tantos gemidos, de tantas corridas entre o meu corpo e a tua boca, de tantas vitórias da tua pele sobre o meu peito esgotado de desejo.
Os meus lábios correm no caminho dos teus e precipitam-se sobre eles, sobre a tua pele que clama o toque das minhas mãos, sobre o teu cabelo que me embala num jogo de escondidas entre os teus caracóis e meus dedos.
Bebo-te a alma quando te seguro a cara entre as mãos e desenho o traço de cada traço das tuas feições na ponta da luz da lua que nos entra pela janela semicerrada e que vem beijar-te o queixo e a curva do pescoço e que vem tocar-me o ombro e as ondas dos cabelos.
Amo-te ali mesmo na pressa da demora deste amor que se quer breve e no entanto (e)terno, tenho-te, mordo-te, faço meu cada pedaço de ti e entrego-me na mesma fúria calma dos amantes para que tua me saibas.
Entregamo-nos à lutas dos corpos que reclamam o descanso depois dos lábios inchados de beijos e das mãos vazias de um desejo feito mar. Aqui, agora, ante o olhar atento desse sofá, sob a protecção do ferrolho regressado a casa e com a conivência da lua que – para não ser indiscreta – se retirou ordenando ao sol que acordasse mais tarde para que nos pudéssemos amar.